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Quando as unidades do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) fecharam as portas devido às medidas de distanciamento social,  os  23 alunos do Senai-RS que se preparam para a Seletiva WorldSkills não imaginavam o que viria. A competição que vai escolher os melhores de cada profissão para serem os representantes do País no próximo ano na WorldSkills Shangai foi confirmada para ocorrer entre outubro e dezembro de 2020. Nas provas, os jovens são desafiados a executar tarefas do dia a dia do trabalho das profissões que escolheram, dentro de prazos e padrões internacionais de qualidade.  A pandemia foi mais um componente nesta história que sempre tem superação, foco e busca por excelência em suas edições.

Foram meses de incertezas, muita procura por respostas e por soluções.  A primeira delas foi como treinar sem estar na escola? E os equipamentos? Teriam acesso a eles? Todos os alunos, das 19 ocupações que o Senai gaúcho vai participar, continuaram seus treinos, inicialmente em casa, e mais recentemente também nos seus centros de treinamento. Atualmente, todos estão treinando no Senai dentro dos protocolos de segurança, cerca de 50%, e em casa. “Foi a solução que encontramos para que os alunos continuassem a preparação sem desmotivar e com a atenção dos instrutores”, explica o diretor-regional do Senai-RS, Carlos Trein. “A competição tem como característica buscar sempre ser o melhor e para isso é necessária capacitação intensiva, para alcançar um padrão mundial. Além disso, a parte psicológica é importante e ficar sem esta capacitação, seria desmotivante”, acrescenta. Ocupações como Design Gráfico, é mais tranquilo. Computador, software, comunicação com o treinador, tudo certo. Mas Manutenção Industrial, Pintura Automotiva ou Sistemas Drywall? Pois o comprometimento dos alunos e o apoio de suas famílias levou o Senai para dentro de suas casas.

Matheus Alves da Luz, de 19 anos, é o competidor em Pintura Automotiva e transformou a garagem de casa em oficina do Senai. Com a autorização de levar os equipamentos, ele e o instrutor Hilton Lisboa, montaram a oficina e seguiram os treinamento com as orientações dadas por Whatsapp ou videoconferência, e em alguns momentos de forma presencial, dentro dos protocolos de segurança.  “Montamos uma base avançada na casa do estudante, dando assim continuidade nas atividades sem problema algum. O distanciamento Social não atrapalhou, pois foi criado um sistema de comunicação on-line direto, onde eu continuava o auxiliando e avaliando”, esclarece. É a segunda vez que Lisboa treina um aluno para a eliminatória, e destaca que cada seletiva possui suas peculiaridades, mas esta tem um fator novo e traz ainda mais desafios. Matheus, que já voltou a treinar no Senai Automotivo, em Porto Alegre, vê a competição como uma vitrine para mostrar seu trabalho. “Estamos lá como exemplos a serem seguidos. Quero participar da Worldskills para mostrar a mim mesmo que eu posso e quero vencer e ser uns dos melhores do mundo em pintura automotiva” diz ele.

Luan Gottens, competidor da ocupação de Manutenção Industrial, conseguiu autorização para levar os equipamentos menores para casa e treinar com eles. Segundo Luan, o foco foi em outros processos e no reforço da parte teórica.  “Foi legal treinar em casa e mostrar para meus pais como funciona a minha ocupação e a competição, mas deu bastante saudade de ir para o Senai” afirma ele. O treinador Rodrigo Coimbra dos Santos comenta que com a data da prova em outubro, o aluno vai precisar “dar um gás” agora que voltou a treinar na escola. “Logo iniciamos os simulados e vamos corrigindo o que for preciso. Toda a base ele já treinou. Agora é pôr em prática todos os conhecimentos e realizar diversas vezes, corrigindo os projetos e os simulados”, explica Rodrigo, que foi competidor em 2005.  Outro aluno que fez da sua casa uma oficina foi Enrique da Silva Silveira, de 17 anos, competidor de Sistemas de Drywall e Estucagem.  Com os treinos suspensos num primeiro momento, Enrique conseguiu adaptar o espaço da sua garagem. Maicon Vieira, o instrutor, assegura que a pandemia não chegou a prejudicar o aluno. “Na verdade até fortaleceu, pois ele buscou muitos recursos sozinho”, conta. Enrique buscou conhecer novos processos e novas soluções para possíveis problemas. O apoio da família foi fundamental já que as atividades fazem  muita sujeira e ocupam espaço.  “Minha família se mobilizou para ter um local onde eu pudesse treinar e quando viam a sujeira, eles entendiam que é um investimento em meu conhecimento, que tudo iria valer pelo esforço”, destaca.

A dupla de competidores na ocupação de Mecatrônica Djonatan Meinicke e Rafael Sasseti teve a questão do distanciamento como obstáculo extra. Mesmo com os incentivos e materiais disponibilizados, Djonatan relata que a dupla passou por dificuldades no treinamento. “O fato de estar afastado por um bom tempo nos prejudicou bastante, pois deu uma quebra no ritmo”. Isso ocorreu por quase dois meses, com o treinamento suspenso presencialmente no Senai e adaptando-se com os materiais em casa. Mas, segundo o instrutor da dupla, Diego Basso, mesmo com os problemas os meninos não desanimaram “Eles faziam as tarefas juntos, um programava e o outro montava o programa. Foi uma interação um pouco diferente do usual, a gente acabou frisando que o maior ganho que teríamos era o de comunicação entre eles”, fala. Djonatan diz que acredita muito na competição e sabe que irá favorecer no seu conhecimento técnico. “Querendo ou não, a pessoa não trabalha só a parte técnica e prática, também trabalha a mental, psicológica e comportamental. Nos tornamos melhor profissionalmente”, completa.  

A Mecatrônica do Senai gaúcho já levou várias duplas ao pódio nacional e teve dois campeões mundiais, assim como Tecnologia de Mídia Impressa. Nesta modalidade, Carlos Augusto Corrêa Júnior, diz que é uma responsabilidade a mais. “Obviamente quero continuar o histórico de vitórias da escola, mas não é uma pressão ruim”, afirma. Treinado pelo campeão, Victor Bernardo, Carlos diz que chegou sim a se desmotivar um pouco, mas que com o retorno à escola e às atividades de forma mais intensa, a motivação voltou. “Perdemos um pouco de tempo, mas pelo cronograma inicial já estamos quase na etapa que deveríamos estar. O trabalho seguiu e estaremos prontos na prova”, explica Bernardo. A aluna de Design Gráfico, Manoela Campos, pôde continuar treinando em casa com o equipamento do Senai e falava com a instrutora Karine  Collioni diariamente. Manoela ressalta o aprendizado que está tendo. “O nível de informação e de conhecimento a gente não aprende na faculdade ou em outro lugar, aprende mesmo na experiência, na prática. E a competição tem da prática, de contato com pessoas que entendem muito do assunto. Isto acrescenta muito no nosso currículo”, enfatiza.

O objetivo de todos é o mesmo: ser o melhor na sua profissão e ir para Shangai representar o Brasil. Para o Senai-RS, a competição inicia na primeira semana de outubro, de 5 a 10, com Design Gráfico, em Goiânia, e em Porto Alegre, no Senai da Construção Civil, com Felipe de Souza, defendendo o Estado em Carpintaria de Telhados.

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Publicado Terça-feira, 21 de Julho de 2020 - 14h14
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