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Como a indústria de alimentos deve se portar frente à pandemia? Ainda que seja muito improvável que os alimentos possam ser veículos de disseminação, a alta taxa de transmissão exige cuidados que evidenciam a importância de um sistema de gestão de segurança forte e estruturado. É sobre isso que trata o artigo técnico de hoje. Confira:

A base de todos os sistemas de gestão, incluindo aqueles que envolvem a segurança de alimentos, é que as empresas precisam conhecer seu propósito de existência e as questões internas e externas que podem influenciar no desempenho da organização. Dessa forma, conseguem desenvolver habilidades de aprendizado e atuar de maneira efetiva na melhoria contínua e no gerenciamento de crises.

“Se você conhece o inimigo e conhece a si mesmo, não precisa temer o resultado de cem batalhas. Se você se conhece mas não conhece o inimigo, para cada vitória ganha sofrerá também uma derrota. Se você não conhece nem o inimigo nem a si mesmo, perderá todas as batalhas.” Este é um trecho do livro “A arte da guerra” escrito por Sun Tzu no século IV antes de Cristo, o qual mantém-se atualizado e encaixa-se perfeitamente no contexto da epidemia que vivemos.

Por melhor que seja o sistema de gestão de segurança de alimentos que as empresas tenham implantado e a previsão de ações a serem realizadas na indústria diante de uma epidemia mundial, quando o inimigo é desconhecido, como no caso da COVID-19, inevitavelmente, as empresas sofrerão algumas derrotas até que consigam definir as melhores estratégias de combate. É justamente o grau de conhecimento da empresa, preparação e maturidade das equipes para lidar com novos eventos que definirão o sucesso ou a falha nas ações tomadas para minimizar as consequências negativas trazidas pelo novo inimigo.

Na ótica das doenças transmitidas por alimentos, em se tratando de vírus em geral, sabe-se que o agente necessita de uma célula hospedeira para se reproduzir e sobreviver. Portanto, sobrevive pouco tempo em alimentos. Deste modo, é pouco provável que os alimentos sejam potenciais veículos para a sua disseminação, como já foi comprovado e publicado por inúmeras instituições acadêmicas de referência e organismos oficiais como Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), Food and Drug Administration (FDA) e Organização Mundial da Saúde (OMS). Desta forma, para evitar contaminações dos alimentos, apenas seria necessário cumprir as Boas Práticas de Fabricação, práticas compulsórias para todas as indústrias produtoras de alimentos, no Brasil definidas pela ANVISA e Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA).

O que ocorre, na realidade, é que o vírus apresenta alta taxa de transmissão entre as pessoas, o que afeta diretamente na segurança de alimentos. Isto porque que, se houver casos e transmissões dentro da organização, a empresa ficará com grande parte do seu quadro de funcionários afastados por questões de saúde e tanto a produção quanto os monitoramentos e verificações de parâmetros essenciais de segurança de alimentos ficarão desassistidos.

Para evitar ou minimizar os efeitos do vírus tão logo ele tenha surgido, é essencial que um sistema de gestão esteja bem implementado, com estratégias previstas para gerenciamento de crises, equipes capacitadas para tomar decisões a curto prazo e inteligência emocional para lidar com as situações e conduzir as equipes de maneira adequada.

Muito além do reforço de Boas Práticas de Fabricação que todas as indústrias possuem implementadas, ou deveriam possuir, as empresas precisam analisar quais são os riscos que a pandemia trará para a organização: o desabastecimento de matérias-primas e demais insumos, o pânico dos manipuladores e população em geral, a falta de transporte de produtos e funcionários, as mudanças de necessidades dos clientes e consumidores devido a alterações de hábitos de consumo em decorrência do isolamento social, ou ainda, a perda de funcionários e pessoas-chave pelo acometimento do vírus. Além disso, faz-se necessário que sejam realizadas práticas de verificação de eficácia de ações: treinamentos, atividades de higienização de mãos, uniformes e superfícies.

Com as atividades de gestão, todas essas questões já estão mapeadas e suas estratégias de combate pré-definidas. No momento em que surge um inimigo novo ou já conhecido, o comitê de gerenciamento de riscos deve se reunir e verificar o alinhamento daquilo que foi mapeado anteriormente, os recursos necessários e os responsáveis pelas ações a serem tomadas. Quanto mais a empresa se conhecer, quanto mais rápidas forem as medidas tomadas, menores serão os impactos negativos para a organização.

Por isso, a implantação de um sistema de gestão de segurança de alimentos vai muito além da abertura de novos mercados, do atendimento a requisitos de clientes ou do uso de selos. A existência de um sistema de gestão bem implementado, em tempos de crise, muitas vezes define a sobrevivência ou a falência de uma empresa.

Por Ana Carolina Langone - Instituto SENAI de Tecnologia em Alimentos e Bebidas

segunda-feira, 27 de Abril de 2020 - 18h18

Comentários

Excelente artigo, parabéns!
Boas práticas de fabricação 100% e sistema de gestão de segurança de alimentos bem implementado é conhecer o inimigo e conhecer a si mesmo!

Parabéns pelo belo artigo.

Com Boas Práticas de Fabricação e a implantação de um bom Sistema de Gestão de Segurança dos Alimentos é conhecer o inimigo e conhecer a si mesmo.

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